"Há sentimentos que nascem assim sem tamanho, e quando queres chamar por eles ficas sem rumo porque nem os nomes lhes sabes.
E depois há essas dores que nascem daqueles sentires, assim como uma sequência lógica e coordenada, e tomam conta de ti, como se fosse tua obrigação albergá-los no peito.
E depois há nada, um pó fino onde te aninhas à espera que o dia seja sempre mais curto e a noite seja nunca.
E tu ficas, porque a vida assim o quer, e tu sabes que assim será.
E os dias são sempre mais longos na esperança de que os anos se esqueçam das dores que trazem nomes a apertar-te no peito.
Mas tu sorris na sombra das tuas dores a murmurar esses sentimentos e a gritar outras alegrias. E vives, ainda, porque os outros te querem aqui, e porque a vida afinal, é assim; uns dias sim e outros não.
E para que hoje seja sempre um dia sim, não deixes que os sussurros se façam ouvir mais alto do que os gritos porque o prazer é sempre mais ténue e a dor sempre mais densa."
Carmen Velosa