17 de dezembro de 2007

Canção Perdida



Hálitos de lilás, de violeta e d'opala
Roxas macerações de amor e de agonia,
O campo, anoitecendo e adormecendo, exala...

Triste, canta uma voz na síncope do dia:

Alguém de mim se não lembra
Nas terras de além mar...
Ó morte, dava-te a vida
Se tu lha fosses levar!

Com o beijo do sol na face cadavérica,
Beijo que a morte esvai em palidez algente,
Eis a lua a boiar sonâmbula e quimérica...

Doce, canta uma voz melancólicamente:

O meu amor escondi-o
Numa cova ao pé do mar...
Morre o amor, vive a saudade...
Morre o Sol, olha o luar!

Morre a amor, vive a saudade...
Morre o Sol, olha o luar!

Lactescente a neblina pálida flutua,
Diluindo, evaporando os montes de granito
Em colossos de sonho, extasiados de Lua...

Flébil, chora uma voz no letargo infinito:

Quem dá ais, ó rouxinol,
Lá para as bandas do mar?
É o meu amor que na cova
Leva as noites a chorar!

É o meu amor que na cova
Leva as noites a chorar!

A Lua enorme, a Lua argêntea, a Lua calma
Imponderalizou a natureza inteira,
Descondensou-a em fluido e embebeu-a em alma.

Triste, expira uma voz na canção derradeira:

Ó meu amor, dorme, dorme
Na areia fina do mar,
Que em antes da estrela d'alva
Contigo me irei deitar!

Que em antes da estrela d'alva
Contigo me irei deitar!


Guerra Junqueiro

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